Avaliação de Resultados em RH: Análise dos Métodos Propostos na Literatura Acadêmica

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay 

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O artigo escrito pela Profª. Beatriz Maria Braga é uma análise abrangente sobre a avaliação de resultados em RH que têm sido propostos por diversos autores nos últimos anos.

Ela também destaca que as grandes diferenças nas propostas para a mensuração da contribuição do RH para o desempenho da organização refletem, em grande medida, as premissas adotadas em relação ao papel que a área desempenha (ou que deveria desempenhar). Mas, já no primeiro parágrafo, ela conclui, com base na posição de Dave Ulrich, que ¨A maior contribuição da área de RH seria, portanto, a obtenção e retenção das pessoas adequadas ao menor custo¨.

Adiante ela lembra um aspecto frequentemente esquecido nas análises: É  razoável esperar que maiores níveis de eficácia na administração de RH em um determinado ano possam estar vinculados a um aumento na performance da empresa no ano seguinte.

Com relação às boas práticas ela destaca alguns pontos levantados pelos pesquisadores estudados.

“Não é possível afirmar, ainda, que o melhor desempenho decorre das práticas, pois a causação inversa pode ser verdadeira – a empresa que tem maior lucratividade também tem capacidade para a adoção de tais práticas. Outro problema encontrado nessas pesquisas é a participação – nada garante que os respondentes assim o fizeram justamente porque suas empresas têm boa posição financeira e adotam práticas de alto desempenho”.

¨Um problema é que as pesquisas, em geral, estudam uma única prática e o seu efeito sobre o desempenho financeiro. Conforme observa o autor, empresas que adotam uma prática tendem a adotar também outras práticas de alto desempenho e, nesse caso, a avaliação da correlação com o resultado financeiro pode estar sendo superestimada para uma prática específica¨.

Também reproduzo alguns outros trechos interessantes e que dão uma visão geral do trabalho.

“A grande contribuição do estudo foi revelar que, embora algumas práticas possam ser consideradas boas para todos, elas também são contingentes – e, portanto, mais apropriadas – à estratégia adotada pela organização. Portanto, os resultados sugerem que quadros de referência diferentes são necessários para representar diferentes formas de relação entre as práticas de RH e o desempenho organizacional”.

“De acordo com Becker et al (2001), é difícil medir a influência da área de Gestão de Pessoas sobre o desempenho da organização. Em geral, não há conexão entre o que é medido e o que é importante. As medidas não estão conectadas com os programas e ações desempenhadas pela área que realmente contribuem para o efetivo atendimento dos objetivos estratégicos da organização. Esses programas e ações, que os autores denominam de vetores estratégicos de RH, podem ser a obtenção de uma força de trabalho capaz e comprometida, por exemplo. Nesse sentido, RH funciona como um parceiro estratégico que ajuda a promover a criação de capacidades estratégicas difíceis de serem copiadas pelos concorrentes. Portanto, no fundo, a questão parece ser: como RH cria valor?”.

“Huselid, Jackson e Shuller (1996) descobriram que os profissionais de RH não se mostraram hábeis em traduzir as metas estratégicas das organizações em metas operacionais e factíveis em RH. Consequentemente não conseguem implementar as metas estratégicas. Essa capacidade de tradução das metas estratégicas em ações operacionalmente factíveis tem grande influência nos resultados financeiros da organização”.

¨Os autores ressaltam que “a fim de demonstrar aos gerentes seniores a contribuição estratégica de RH” (Becker et al., 2001, p. 40), precisa-se de um sistema de mensuração que se concentre em duas dimensões:

• O controle de custos (menor custo para RH e maior eficácia fora de RH)

• A criação de valor (garantir que a arquitetura de RH parcialmente se sobreponha aos – ou intercepte os – processos de implementação da estratégia¨.

“para alinhar RH com a estratégia deve-se pensar em dois processos: primeiramente, os gerentes devem entender como valor é criado na organização, ou seja, é preciso entender como a estratégia deve ser implementada na nossa organização. Para isso, deve-se pensar em direcionadores de desempenho que sejam identificados como fatores-críticos de sucesso e fluxos causais (determinantes financeiros e não financeiros de performance). Em segundo lugar, é preciso que os indicadores de desempenho reflitam o processo de implementação da estratégia. Dessa maneira, deve-se reconhecer a importância de ativos tangíveis e intangíveis e de indicadores financeiros e não financeiros. É importante identificar as conexões de geração de valor entre clientes, operações, empregados, tecnologia e processos de RH e distinguir indicadores consequentes e antecedentes: consequentes refletem o que já aconteceu no passado; os antecedentes avaliam o status dos Fatores Críticos de Sucesso que impulsionam a implementação da estratégia”.

Em outra interessante análise ela afirma.

¨Tendo por base essas considerações e premissas e tendo como referência o Balanced Scorecard de Kaplan e Norton (1997), os autores propõem um modelo de gestão estratégica de pessoas com o Scorecard. Para tanto, propõem um modelo de 7 etapas para implementação do papel estratégico de RH:

1. a definição clara da estratégia do negócio da organização;

2. o desenvolvimento de argumento de negócios para RH como um ativo estratégico, ou seja, como RH ajudará na implementação da estratégia da organização. A implementação bem-sucedida é induzida (i) pelo foco estratégico dos empregados, (ii) pelo alinhamento estratégico de RH e (iii) pelo sistema equilibrado de mensuração de desempenho;

3. a criação de um mapa estratégico. Para isso deve-se responder a perguntas como: quais metas, objetivos e resultados estratégicos são críticos? Quais são os direcionadores de performance para cada meta? Como mediremos progressos em direção a essas metas? Quais são as barreiras para se atingir essas metas? Quais os comportamentos necessários dos funcionários para o atingimento dessas metas? O RH oferece as competências e comportamentos de funcionários necessários à organização? Se não, o que precisa ser mudado?

4. a identificação os produtos de RH dentro do mapa estratégico, ou seja, a identificação dos produtos de RH que apoiam os vetores de desempenho da empresa (que promovam o STAD);

5. o alinhamento da arquitetura de RH com os produtos de RH;

6. o desenho do sistema estratégico de medidas de RH;

7. a implementação da administração por medidas.

A utilização do Scorecard para RH garante, de acordo com os autores, que se consiga um balanço entre controle de custos e criação de valor: o controle de custos vem através da medição dos indicadores de eficiência de RH e a criação do valor vem da medição dos produtos de RH, do alinhamento do sistema de RH e do Sistema de Trabalho de Alto Desempenho (STAD). Esses três elementos essenciais da arquitetura de RH traçam uma corrente de valor entre funções, sistemas e comportamento de funcionários. Se os gestores de RH desejam medir o que importa, eles devem medir as decisões e resultados de RH que trazem as maiores taxas de retorno. O balanceamento entre controle de custos e criação de valor ajuda os gestores de RH a evitar erros como a tendência de se focar nos benefícios dos esforços estratégicos do RH, sem se importar com os custos associados a esses benefícios.

Portanto, um Scorecard para RH permite que a empresa faça duas coisas importantes: 1) administre o RH como um ativo estratégico e 2) demonstra a contribuição do RH para o sucesso financeiro da organização. Devem entrar no Scorecard os 4 elementos que estão embutidos na arquitetura de RH: STAD, alinhamento do sistema de RH, eficiência de RH e produtos de RH. O STAD é a base para o desenvolvimento do RH como um ativo estratégico, uma vez que maximiza o desempenho dos funcionários. Qualquer sistema de medição de RH deve incluir um conjunto de indicadores de reflitam o foco do desempenho de cada elemento do sistema de RH.

O alinhamento diz respeito a (i) quanto o sistema de RH está adequado ao sistema de implementação da estratégia da organização (o alinhamento externo); e (ii) a extensão em que os elementos do sistema de RH trabalham em harmonia e não em conflito entre si (o alinhamento interno). Eficiência de RH reflete a extensão em que a área de RH pode ajudar o resto da organização a gerar as competências necessárias de uma maneira eficaz em custos. Recomenda-se que as medidas de eficiência sejam divididas em principais e estratégicas. As principais são medidas que representam gastos significativos, mas que não contribuem diretamente para a implementação da estratégia da empresa. As estratégicas avaliam a eficiência das atividades e processos de RH que geram os produtos de RH.

Os produtos de RH são os contribuidores-chaves de capital humano para a implementação da estratégia da organização. Os produtos ajudam a identificar as conexões causais únicas pelas quais o sistema de RH gera valor para a empresa. Para que a medição tenha importância, deve-se medir somente o que é preciso. Os produtos que não puderem ser atrelados diretamente ao mapa estratégico da organização não devem ser incluídos no Scorecard. Os produtos “tendem a se expressar sob a forma de comportamentos orientados para a estratégia, tais como baixos índices de rotatividade…” (Becker et al., 2001, p. 81)¨.

Outros trechos que merecem reflexão.

“Ainda que não se consiga verificar empiricamente uma cadeia de causação de cinco elos, por exemplo, entre RH e o desempenho da empresa, a determinação da influência de RH sobre os principais vetores de desempenho intermediários (como retenção de clientes ou tempo dos ciclos de P&D) tem implicações financeiras nítidas À medida em que os gerentes validam um número cada vez maior de tais elos, eles começam a definir as conexões centrais entre RH e o desempenho da empresa. A identificação de indícios sistemáticos e quantificáveis da contribuição de RH para sete dentre vinte vetores de desempenho estratégicos, por exemplo, ainda não representa todo o processo da influência estratégica de RH, mas já é um avanço significativo em relação a zero em vinte!” (Becker et al, 2001, p. 145)¨.

¨O questionamento tem a ver com a própria conceituação de RH, ou seja, a definição do RH que se quer é fundamental para o processo de avaliação e mensuração: o que vai ser considerado atribuição de RH e o que ficará de fora; o que estratégico e o que é rotina; e o que é perene e o que é contextual. De certa forma, esses estudos partem da premissa de que o próprio processo de elaboração da estratégia já define, em grande parte, qual será o papel das pessoas na estratégia restando, ao RH, cumprir o que foi determinado. Se assim for, os parâmetros para se avaliar e mensurar RH podem ser definidos quando da elaboração da estratégia¨.

Em resumo, trata-se de uma análise abrangente, útil e interessante, merecendo leitura e reflexão pelos envolvidos em analisar e buscar melhor desempenho para a área de gestão de pessoas das organizações.

Referência

Braga Lacombe, Beatriz Maria. Avaliação de Resultados em RH: Análise dos Métodos Propostos na Literatura Acadêmica. RELATÓRIO DE PESQUISA Nº 29 /2004. FGV EAESP Pesquisa. Disponível em https://pesquisa-eaesp.fgv.br/publicacoes/gvp/avaliacao-de-resultados-em-rh-analise-dos-metodos-propostos-na-literatura-academica  Acesso em 6.9.22.

Post de 8 de novembro de 2022, revisado em 24 de novembro de 2022

O Segredo de Luíza – Crítica do livro

Escrito por Fernando Dolabela, um prolífico autor de livros, do software MakeMoney – voltado a empreendedores – e criador da metodologia Oficina do Empreendedor. Portanto, profundo conhecedor das dificuldades enfrentadas por aqueles que ousam empreender no Brasil.

Embora antigo, o livro é de 2008, é uma leitura agradável que mistura ficção e conhecimentos práticos. O autor não é um Machado de Assis, mas a história é bem contada.

De forma romanceada, enquanto descreve as aventuras e desventuras de Luiza – uma moça do interior de Minas – o autor apresenta as etapas de criação de uma pequena empresa, ao mesmo tempo em que mostra as mudanças por que passam as pessoas nessa jornada empreendedora. Em paralelo, são apresentados os aspectos importantes que devem ser observados antes e durante a criação da empresa. Tudo exemplificado com tabelas e suportado por ferramentas clássicas de gestão de pequenos negócios.

Alguns tópicos apresentados:

  • Incubadora de empresas.
  • Empreendedorismo feminino.
  • Plano de Negócios.
  • Fluxo de caixa.
  • Pesquisa de mercado.
  • Vida pessoal versus empresarial.
  • Escolha do sócio.

É uma leitura agradável e interessante.

Livro: Dolabela, Fernando. O Segredo de Luíza. Sextante. Rio de Janeiro. 2008.

The Signal and the Noise – Resumo do livro

The signal and the Noise

Fazendo uso de exemplos fundamentados na política norte-americana, nos jogos de baseball, em projeções econômicas e na probabilidade de ocorrências de terremotos, o autor apresenta os aspectos mais importantes no trabalho de previsão de resultados.

Enquanto as eleições americanas são tema de conhecimento comum, as muitas considerações sobre beisebol – esporte pouco conhecido entre nós – podem ser enfadonhas; o capítulo sobre a bolha do pôquer foi, ao menos para mim, intragável.

Ainda assim, para os curiosos sobre o tema da análise e interpretação de dados, é um livro instigante e interessante. Mas, o foco do autor está nas muitas histórias interessantes e pouco contribui com ferramental para separar os sinais dos ruídos, como por exemplo o Controle Estatístico de Processos CEP, ferramenta apenas citada no texto.

Algumas observações selecionadas:

A verdadeira era da informação começou em 1440, com a invenção da imprensa por Johannes Guttemberg. Antes, uma página de livro manuscrito custava cerca de 20 dólares, limitando o acesso ao conhecimento.

É importante lembrar que os modelos são simplificações da realidade e devem ser usados com cuidado.

Um sinal é uma indicação de uma verdade subjacente por trás de uma estatística ou problema preditivo, enquanto ruídos são padrões aleatórios que podem facilmente ser confundidos com sinais. O sinal é a verdade. O ruído é o que nos distrai da verdade.

O objetivo de qualquer modelo de predição é capturar tantos sinais quanto possível e tão poucos ruídos quanto puder. Armstrong argumenta que “quanto mais complexo o modelo, piores são as previsões”. É uma frase bonita que faria sucesso nas redes sociais, mas que deve ser encarada com algum ressalva.

Na estatística, a confusão de tomar ruídos como sinais é denominada overfitting. Modelos puramente estatísticos, com grande número de variáveis e uma pequena quantidade de eventos para sua validação, geralmente levam ao risco de overfitting. Esse risco é consideravelmente menor quando se usa modelos físicos de causa e efeito.

Segundo o autor, o caminho para maior objetividade é reconhecer a influência que nossas premissas têm em nossas previsões.

A estatística tem sido parte dos esportes desde há muito tempo. O primeiro conjunto de informações – com cinco informações sobre cada jogador – foi publicado em jornal por Henry Chadwick em 1859.

Nosso instinto é categorizar as informações, geralmente em um pequeno número de categorias, pois isso facilita o entendimento.

A inspeção visual de um gráfico que mostra a interação entre duas variáveis geralmente é um caminho mais rápido e confiável para identificar outliers nos dados do que um teste estatístico.

Predizer o passado é um oximoro e obviamente não pode ser contado entre os sucessos.

A estatística é uma das habilidades fundamentais necessárias à ciência dos dados.

Uma previsão científica exige um resultado probabilístico, ou seja, nas previsões é importante informar também a incerteza. Coisa comum nas pesquisas eleitorais, porém rara nos resultados de outras previsões. Laplace via a probabilidade como um meio caminho entre a ignorância e o conhecimento.

A heurística do “acompanhe a maioria, especialmente quando não sabe nada melhor” normalmente funciona bem.

Consenso não é sinônimo de unanimidade, mas um grande acordo obtido após um processo de deliberação. É, portanto, uma alternativa à votação.

Informação só se transforma em conhecimento quando colocada em um contexto.

Fonte:

Silver, Nate. The Signal and the Noise: Why So Many Predictions Fail-But Some Don’t. The Penguin Press. New York, 2012. (Inglês)

Nota: Já está disponível em português.